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Ela nem parece mãe

  • Foto do escritor: jessica rocha
    jessica rocha
  • 5 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de nov. de 2023

Ela nem parece a mãe, eu escutei, porque não corri prontamente pra levantar meu filho que caiu e ralou o joelho. Mas nem parece que é mãe, eu ouço porque entrego meu filho às sextas à tarde pro pai dele, e o pego novamente na segunda. Mas nem parece que tem filho, sou questionada por estar nos finais de semana em bares ou festas. Não age como mãe, porque converso e permito que ele questione as regras, inclusive as minhas. Não tem atitude de mãe, dizem enquanto apontam pra minha foto de biquíni. Aparentemente, inúmeras atitudes não são condizentes com a função de mãe. Pelo visto, quando você ascende à esse cargo, várias coisas devem ser deixadas pra trás, inclusive àquela mulher que se vestiu, botou sua melhor roupa, expondo ou não o seu corpo, saiu, se divertiu, bebeu, encontrou pessoas, transou, gozou, deu altas gargalhadas, sentiu o frio na barriga, se arrepiou, se decepcionou, ora voltou pra casa chorando, ora apaixonada, ela amou e então, engravidou. fim, essa mulher deve ser esquecida. Agora entra a mãe, é essa que você deve ser a partir de agora.

A mulher que você era antes vai aos poucos dando espaço pra essa nova que acabou de chegar, muito confusa no começo, sem saber direito como agir e o que fazer. A mulher que você era antes, nasceu e se desenvolveu até que chegasse àquela que enfim carregaria uma criança. A mãe não, ela nasceu de um dia pro outro e teve que se virar pra aprender lidar com as responsabilidades da nova função, isso tudo enquanto vivia a maior confusão hormonal da sua vida. A nova mãe, completamente perdida, sentindo-se por vezes incapaz de cumprir suas novas tarefas tenta se aconselhar com o maior número de pessoas possível, tentando absorver das experiências alheias algum conhecimento, pra mim, é aí que as pessoas começam a se sentirem à vontade pra despejar em vc todas suas experiências e também suas expectativas.

Por um momento, eu quase cheguei a acreditar que existem atitudes de mãe e atitudes que não são pra mãe, e mesmo após pensar sobre isso e entender que cada pessoa pode ser mãe à sua própria maneira, eu ainda me peguei me sentindo menos mãe que outras, me comparando.

Por sorte a mulher que eu era antes tem uma força incrivelmente grande, ela soube ceder espaço pra mãe quando foi preciso, mas logo ela exigiu retomar seu lugar como personagem principal. A mulher que eu sou é infinita, ela é amiga, é filha, é funcionária, é estudante, é esposa, é amante e é mãe. Poder ser muitas é o que me torna maior.

Me libertou perceber que não importa como eu leve a minha vida, muito menos como eu vou criar o meu filho, nada pode tirar de mim que eu sou a mãe dele. Pode não parecer, mas eu continuo sendo mãe. "Não é atitude de mãe", e sigo tendo filho. "Não age como mãe", mas é assim que ele me chama sempre que quer um cafuné. "Isso não é coisa de mãe", mas todos os dias, quando abro meus olhos eu o vejo dormindo ao meu lado, na minha cama, agarrado a mim, completamente alheio à essas expectativas que jogaram na mãe dele, amando cada pedaço dessa mãe que ele tem, não esperando nada de mim, a não ser o que eu ofereço a ele.





 
 
 

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