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Um minuto de silêncio pela alma das mulheres

  • Foto do escritor: jessica rocha
    jessica rocha
  • 8 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 30 de nov. de 2023

Dia 8 de março, logo cedo a internet está cheia de frases parabenizando as mulheres e seus tantos adjetivos, que são guerreiras, que lutam sem descer do salto, que exercem todas as funções e ainda acham tempo pra ficarem bonitas, que cuidam dos filhos, dos maridos, da família e ainda se cuidam, coisa linda é a mulher, como ela é múltipla e dá sempre conta de tudo.

Vendo esse tipo de parabenização me bateu uma tristeza profunda, porque eu não sei as outras mulheres por aí, mas eu não sou isso.

Pra mim, esse discurso nos cala e nos encolhe ainda mais. sim, eu sou guerreira, mas eu não quero guerrear, é guerra ou nada. Lutar sem descer do salto? Meu bem, eu já desci tão fundo que me senti segura por finalmente não ter mais onde ir. Exercemos todas as funções kcom maestria? Não!! não eu. Eu vivo num malabarismo de funções em que muitas vezes coisas que precisam ser feitas ficam pelo caminho, e se eu não tiver sorte e muito diálogo interno acabo me deixando cair pra manter o resto de pé. E ainda estão sempre lindas, não é mesmo … e agora eu me pergunto, por um acaso é permitido que mulheres fiquem feias? Não esteja bonita não pra ver se vc consegue viver “plenamente” em sociedade. Pra uma mulher, estar bonita é uma obrigação que nos impõe ainda quando crianças.

Então eu não quero dizer que não somos tudo isso, nós somos muito mais que isso. Eu quero dizer que eu não aceito esse discurso que faz com que as mulheres se alegrem por estarem sobrecarregadas de afazeres e expectativa da sociedade sobre elas e indiretamente a faz se sentir um lixo caso não esteja dando conta de tudo. E pelo que eu vejo, ninguém dá, nenhuma de nós está dando conta, e esse tipo de discurso faz a gente pensar individualmente que tem algo errado na gente por não ser esse ser perfeito, não humano que dizem que somos uma vez por ano, porque sim, fomos ensinadas desde cedo a procurar o defeito em nós mesmas.

Eu quero dizer que eu não dou conta de tudo, que ainda ontem eu estava segurando choro até terminar de estudar portugues com o meu filho, e que por isso eu não terminei de fazer almoço a tempo dele ir pra escola, e então comemos salgadinho na hora do almoço.

Então não! Eu não sou conta de tudo, e eu nem quero dar, quero descer do salto várias e várias vezes porque em alguns momentos é só assim que eu consigo ser ouvida. Quero poder almoçar salgadinho com meu filho sem me sentir a pior mãe do mundo por não ter feito almoço. Quero usar minhas roupas da forma que eu achar melhor sem que isso diga algo sobre quem eu sou. Quero que a expressão da minha sexualidade não me torne menos digna de amor. Quero poder falar alto sem ser taxada de louca. Quero ser reconhecida no meu trabalho sem precisar que algum homem me valide. Quero chorar quando tiver vontade sem que isso me torne frágil, porque sim, eu choro e o meu choro é também a expressão da força que eu tenho. Eu quero menos parabenização por dar conta de tudo e mais divisão de tarefas. Eu quero poder ser tudo e também não ser nada, mas que eu decida quando eu serei cada uma dessas.

Eu não vou sorrir e acenar como a realeza exibindo uma vida de mentira. Eu estou desconfortável e todo mundo vai ficar.

Não me dê flores, não me diga nada, faça um minuto de silêncio pelas almas das mulheres.





 
 
 

1 Comment

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leticiaperaltaeng2014
Mar 08, 2023

Que texto lindo, enquanto lia me lembrava de todas as cobranças que me faço

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